28 de julho de 2010

Quero ser Isabella Swan.


Algumas pessoas – como eu - são alvos fáceis para um tipo determinado de entretenimento: os malditos filmes de saga. Amor e aventura, com uma moçinha descoordenada e um anti-herói de lábios macios e suculentos.

Desde a infância este tipo de sacanagem – literária ou cinematográfica- me pegou. Tudo começou com Poliana; aquela coleção tediosa: “Poliana Menina”, “Poliana Moça”, “Poliana Mulher”. Não era exatamente uma saga de aventuras, mas o leitor acompanhava seu crescimento, a saga natural de se tornar adulto. Eu queria ser tão leve e indulgente quanto ela, mas nunca consegui. Foi mais fácil quando entrei no mundo de Cristiane F., que também não foi propriamente uma saga, mas a história da menininha de 13 anos, prostituída e drogada continuava na minha cabeça, todo tempo, toda hora, até que minha identidade já se perdia nas longas madeixas vermelhas de Cristiane.

Um pouco mais velha, no início da adolescência, quando comecei a beber da fonte da intelectualidade – ou pensava beber- entrei naquela de Castanheda e Star Wars. Não sei por que, mas pra mim as duas coisas faziam muito sentido. Dom Juam e Mestre Ioda sempre falaram da mesma coisa: “o lado negro da força”. Isso fazia muito sentido. Mas era um segredo meu. O mundo das sagas, aliás, sempre foi um grande segredo da minha vida. Imagina, que eu, uma ex-Cristiane F. ia confessar que no fundo era igual aos nerds que adoravam o Luke Skywalker. Hoje isso é cult, mas no final dos 80 e início dos 90 não era não. Nesta época adolescente era uma coisa revoltada, mas não era punk; usava drogas, mas não era junk, nem tampouco hippie; era talvez um pouco de Kurt Cobain e sua depressão neo-roqueira.

Neste caminho de fissuração por um mundo completamente imaginário, criado por um autor doentio- que eu certamente admiro ou invejo- eu também me tornei (felizmente) refém dos quadrinhos. Entre todos os amores, os X-Mens estavam no topo da lista, porque eram humanos que simplesmente já nasciam especiais. O meu lance era principalmente com o Volverine. Quantas noites ele foi minha companhia, com suas garras angustiantes e seu jeito de lobo. Oh Meu Pai, eu amava aquele mutante. Jean Grey, aquela pateta, preferindo o Ciclope, todo jeito de moçinho, olhos perturbados. Nunca entendi. Eu dizia pra ela: “Vai lá mulher assume esse teu desejo! Volva é o cara”, mas nada, a cada edição ela estava mais tonta.

Os anos passaram, chegou a faculdade, um pouco de Watchmen na aula de antropologia mexia com minha pequena obsessão; mas por muito tempo me voltei mesmo para outros interesses. Teatro, Chico Buarque, Bergmann, cinema italiano, Kiorastami. Comecei a viver a minha própria saga. Foram alguns anos - um atrás do outro- de acontecimentos intensos. Amores, desamores, substâncias que me davam superpoderes, situações que me levaram a encontrar a minha própria força. E também minha autodestruição. Emoções loucas, decepções, a vida implacável batendo na porta e eu quase fui poro lado negro. E no meio desta tormenta dos maravilhosos vinte e poucos anos, Harry Potter me trouxe de volta para um mundo equilibrado, amistoso, fofo.

Quando conheci Hogwarts e Dumbledore comecei a me reencontrar novamente. Parece... não, não... não é clichê. Mas aqueles bruxinhos endiabrados me conectaram com o melhor da infância. Os meus esconderijos secretos, o mundo da imaginação que eu havia perdido. E cada história foi mais fantástica que a outra. Usei por muito tempo “A Ordem da Fênix” como meu filme de dormir. Naquelas noites de ressaca, me culpando pelo sábado anterior, Harry me salvou.

Hoje, uma mulher em desenvolvimento, com sentimentos bem dosados, com um lugar certo pra voltar a cada noite, eu novamente cai na esparrela de um mundo que não é meu. Quando começou o falatório sobre a saga vampiresca teenager Twilight, eu não dei bola alguma. Adoro vampiros, mas tenho muito medo também. Trinta anos, escapadelas de Rivotril - não arrisco mais a me provocar. Sofro de diegese, não posso ver filme de terror. Pois bem, há algum tempo atrás, navegando na internet numa noite de sábado qualquer, achei um link para assistir o filme Crepúsculo on line. Doule uma, doule duas... ah, por que não. Na hora dos vampiros, eu abaixo o volume. Comecei a assistir e a cada cena fui me surpreendendo. O pobre vampirinho Edward é um Romeu casto, e Bela pobre Swan, é uma Julieta tarada. Esse filme é de terror humano. Edward é completamente desejável, mas é um vampiro, seu beijo é de morte. Enquanto ele luta contra seu desejo de sangue, ela quer comê-lo inteirinho. Grande conflito.

E depois de despertada a sede, um sagaz devorador de sagas, quer mais. Assisti ao filme dois, não satisfeita, li o livro três e quatro. E agora, o filme três. Diversão garantida. Bella está muito mais tensa, no auge dos seus 18, 19 anos, ela ainda é virgem. Seu namorado é a cara do Elvis Presley (em seus melhores anos de Sun Sessions) e seu melhor-amigo-amante é um musculoso-cachorrão-muito-querido.

Pobre Bella Swan. É como uma heroína mítica, porque é capaz de camuflar sua coragem através de sua fragilidade. E assim como Helena de Tróia, acabar com a paz no reino dos seus seres míticos. Todos querem defender Isabella Swan. Todos morrem e matam por ela. Grande garota! Espero que a saga termine bem. O último livro é decepcionante. É claro que a autora cortou o que poderia ter sido sua melhor descrição: a noite de amor entre Bella e Ed. Já imaginava o puritanismo. Mas, a cena se passa em uma ilha brasileira perto do Rio de Janeiro chamada Esme. Esme? Alguém conhece? Não importa, Edward fala português e adora as espécies nativas. Já existe até propostas de mudaram o nome de Fernando de Noronha. Tudo é possível para fomentar a indústria cinematográfica brasileira. E os amantes de sagas estão por aí, de gabinetes a candy shops, sempre há um deles camuflando sua paixão por alguma história alheia. Ué, Quem sabe?