27 de janeiro de 2011

Joinha está no fundo?

Aonde é o fundo do fundo do poço? O que é estar no fundo do poço? Sentir a água batendo na soleira da bunda, ou estar por um nariz, a ponto de se afogar no fundo? O poço de cada um é um mistério. Acho que isso é uma sentença.

O que para muitos pode ser o pior poço do mundo, pra outros pode nem ser a metade da “tresheira” que é essa vida.
Quando Joinha chegou na cidade nova, mara (de maravilhosa) tudo parecia lindo. Experiências mil, portas que se abriam, janelas escancaradas para um nova vida. Lindo, lindo, lindo. Conseguiu apartamento, conseguiu novos amigos, conseguiu até um novo penteado, mas não conseguiu o novo emprego. Ai ai ai Joinha...
Como quase todos que buscam, Joinha resolveu investir nela mesma. Escrever, criar um blog, sair por aí respirando a literatura, ai ai ai de again... Encontrar o seu estilo, sua coragem, ela mesma e etecétera. E é claro que isso foi demais, foi novamente mara. Chegou bonita, fora do negativo, super azul, super-super, como diziam os amigos da nata. A cidade foi crescendo aos seus olhos, foi lhe entusiasmando, foi lhe apaixonando, foi lhe levando todos os trocados. E aí é que Joinha começou a se estrepar. Estava só indo no fluxo, e aí a gente já viu esse filme. É o fluxo vermelho que toma conta da conta bancaria, e que invade tudo, desde o cheque-especial até cartões os de crédito, um fluxo do inferno que acaba com a vida de muita gente. Coisa séria isso. Tem gente que se arrepia só de ouvir essa junção de palavras, que tira o sono e dignidade: juros sobre juros.

Sentiu o duro golpe do cair em si, cair do cavalo, parar de frescura (como diziam na cidade de onde vinha). Aí, a linda cidade nova sumiu no cinza e no amarelo desbotado dos prédios antigos, na falta de ar que oprime qualquer um que tenha cultivado um saldo negativo com alguns cinco dígitos. Ela lembrou que algumas pessoas (como ela) nunca podem desligar o pisca-alerta, pois se perdem facilmente na ilusão de que a vida vai ser justa, e vai recompensar aqueles que por ela fazem o de melhor. Ihhh, que pena Joinha, levedo engano, a vida está cheia de urgências, e não há tempo de recompensas, não há tempo de justiças. É uma guerra louca pra se achar e se manter no lindo canteiro ao sol da Paulista, e isso é a real desta e de qualquer cidade.

Então, eis que surge o fundo do poço.

Maldito, ou bendito seja, depende do ponto de vista do cidadão que lá estiver. Maldito para quem é um pessimista, que não consegue enxergar que na verdade, quando se está no fundo (mas bem no fundo), não se pode ir mais além, e se for, o tombo já está mesmo amortecido. E bendito, para quem consegue enxergar nessas horas (e nisso Joinha foi boa) que o fundo do poço é um lugar, na verdade, calmo, porque geralmente é muito pessoal, não se compartilha com ninguém, e de lugares calmos, se podem tirar algumas reflexões. Refletir é bom, é necessário. E o fundo do poço então passa a ser uma dádiva. Um momento para por em prática o que de melhor conseguiria dela mesma. Ou era pensar assim, ou a morte por depressão. Agarrada no seu instinto de sobrevivência, Joinha preferiu ver o fundo do poço como apenas um dos lugares a se estar, um lugar de trânsito e levantou a cabeça, pra não ser invadida pela água, que no seu caso, já estava no pescoço.

E essa é a história de Joinha, como a de tantos por aí, que um dia acordam sufocados, com a bigorna da vida pendendo sobre os ombros. É um pouco da história de muitos brasileiros, que como ela, sonham acordados, dormindo ou embriagados. Que como Joinha, não se deixam abalar pelo poço, pela lama, pelo fundo. E afinal, onde mesmo fica o fundo?