2 de agosto de 2010

Vento Negro destrói Porto Alegre!

No sábado à tarde, sentada num simpático boteco paulista na Agusta, comia picanha e falava sobre minha cidade natal com conterrâneos que estavam por essas bandas. Porto Alegre, a capital dos pampas, cidade que um dia quase foi modelo de qualidade de vida no Brasil.

Infelizmente as melhores coisas de Porto Alegre estão na lembrança. E não é porque eu estou à milhas de lá. É que um dia a cidade já fora limpa, um dia a cidade já fora amistosa, um dia a cidade já fora acolhedora. Hoje é um lugar abandonado, sujo, com canteiros porcos, carros entupindo as principais vias, uma cidade poluída, com parques abandonados, eca, um horror. As senhorinhas que ainda passeiam com seus cuscos na Redenção não cumprimentam mais, não param para falar da vida. Afinal, o parque virou tábua de tiro ao alvo. “Vai se confiar em quem minha filha?” As notícias são cada vez piores.

No centro, que outrora fora desenhado pela poesia de Quintana, hoje está o quadro da dor. Ruas escuras, a lá Álvares de Azevedo, lugares em decadência, olhos que espiam pelas janelas de prédios gradeados. É, a cidade não é mais a mesma. O bairro dos boêmios, fundado pela Baronesa do Gravataí, tradicional point de intelectuais da cidade, virou um caos noturno. Além dos bares bregas da moda, o engarrafamento, as crianças pedintes e os “pedreiros”, o bairro está um lixo. Foram-se as flores, foram-se as calçadas limpas, foi-se a paz. Se você não quer se divertir em Porto Alegre vá para a Cidade Baixa num sábado à noite.

Aí, algumas pessoas tentam se iludir dizendo que os investimentos estão nos lugares que mais precisam. Mentira da grossa. Duvido que alguém que diz isso já tenha pisado na Bom Jesus (que por sinal é uma dos maiores bolsões de miséria da América Latina), “Bonja” para os íntimos. Não há água encanada, não há esgoto, não há como entrar sem antes deixar deizão com o guri que fica na esquina segurando um cano (que sei lá Deus que calibre é). E para não ser tão extremista assim, vamos à Zona Norte, lugar que particularmente conheço bem, onde há mais de 50 anos atrás, era uma zona rural e onde meus avós compraram a casa da família. É apenas um bairro de periferia, todo mundo se conhece desde sempre. Mas agora não dá pra sair de casa depois das nove da noite. Pois o menino, filho da Dona Cissa, se meteu num rolo danado e a rua anda cercada por uns sujeitos estranhos. Pois é, antes o Liberato, colégio municipal do bairro, oferecia turno integral. Tinha banda marcial, tinha cancha de futebol, pista de corrida, almoço e lanche. Eu sei, estudei lá. Mas a prefeitura cortou a verba dos turnos extras, o filho da Dona Cissa começou a passar as tardes na esquina, de “aviãozinho”, mas se perdeu numa da entregas, sabe como é, agora ele tem uma dívida. E claro, o poder de compra aumentou, todo mundo tem carro na garagem (e prestação até a morte), e acham que a vida melhorou. Não seria a educação o que fariam as pessoas enxergarem melhor? Devo ser muito romântica mesmo.

É brabo! Mas é a verdade. Aos olhos de quem vive o mundo Zona Sul e Nilópolis (e olhe lá), a vida em Porto Alegre até pode ser divertida. Mas para o grande resto, e isso inclui moradores do Centro, Bom Fim, Cidade Baixa, Santana (e toda a classe média descendo a ladeira), a impressão que eu tenho é que a cidade está largada às moscas. Já tentei ver o que o “profe” Fogaça anda fazendo, mas tá difícil enxergar algo útil. Ah sim, ele fez uma estátua da Elis Regina, que Deus do Céu, se eu fosse a Maria Rita, mandaria processar. A verdade é que seu “Vento Negro” devastou a linda capital gaúcha, e ele que tanto cantou o amor pela cidade, não vê, só ele não vê.