12 de outubro de 2010

Relendo Balzac – a mulher de 30.

Ao som de “I’ll Take You there” – The Staple Singers

Trinta anos é uma idade importante para uma mulher. Porque o que acontece - com a maioria delas - é que percebem que são mulheres ou muito bacanas, ou muito deprimentes e então decidem experimentar mais da vida, ou dar um jeito nela.

Nessa altura, ela (a mulher de 30 e poucos), já possui algum charme. Um trejeito bonitinho que ficou da adolescência, um ar mais confiante que ganhou com a “substância” adquirida (expressão sabiamente usada pela querida Tia Evinha, que se referia assim sobre as mulheres que sabem o que querem), alguma inteligência emocional, que veio depois de inúmeras mancadas amorosas.

A mulher de 30 é uma arma perigosa e pronta para disparar. São vivas e felizes- mesmo quando estão tristes, porque sabem que felicidade realmente não passa de um estado de espírito. São mais legais que as mulheres de 22, porque são gostosas ainda e mais experientes- em vários assuntos. Isto é algo que uma mulher balzaca deve confiar. Muito mais do que em cosméticos. Aliás, a confiança é fundamental nesta idade.

Neste estágio da vida, a mulher já acentuou a sua “tônica”. Uma espécie de escala que vai desenhar a sua personalidade. Notas mais suaves, mais pesadas, escuras, intensas, desleixadas. Não importa qual, toda mulher tem mais propriedade para alguma coisa ou para outra. Encontrar o próprio tom é a busca, até que um dia, a gente (ops), elas, se olham no espelho e sabem exatamente que tipo de mulheres se tornaram. É a artimanha para conseguir conviver consigo mesma. E o que os caras chamam de “ela não era assim antes”. Porque o homem que acompanha a transição de uma mulher, que passa dos vinte e sorridente poucos anos, aos trinta e complexos anos de idade, deve se sentir um grande sortudo. Nem todos conseguem perdurar ao vai-vem de hormônios e desejos.

Sinceramente, admito que ao entrar nos trinta, como num passe de mágica benéfico, a vida se tornou menos urgente e mais progressiva. E isso é ótimo quando se trata de excessos. Porque mulheres de 30 se sentem à vontade pra lembrar do “pé na lama” do passado, e fazer disso um bom dosador. Sabem que tem de ficar atentas, mesmo quando decidem que vão chutar o balde (de novo) de vez. Dosam tudo. Sabem que relações românticas muito turbulentas podem acabar com o resto da vida. Que a mãe, pode ser ou não, um problema a estudar. Que precisa comer legume e salada para não precisar ir na academia mais do que duas vezes por semana (ou nenhuma), e comer de vez em quando algo que encha os olhos e o ego. E que ressaca se cura com banho quente (frio em alguns casos), canja e torradinha. E...bem... uma coca-cola, ou suco de melancia, dependendo da aptidão.

O desequilíbrio emocional da trintona é menos evidente. A histeria, o mau humor, a paranóia e autopunição podem ser quase imperceptíveis (para leigos). Mas quando a “tônica” de sua personalidade vem à tona é de enlouquecer qualquer santo. Elas demonstram as mais horripilantes coisas que sentem. Tornam-se monstras, juízas, sádicas torturadoras. O olhar inquisidor, o silêncio letal, a agressividade guardada nas retinas. Porque na casa dos vinte, elas são gritonas, na casa dos trinta, são vingativas. Se mal resolvidas, chefes e esposas de 30, geralmente são “o inferno do meu ódio” (com sotaque do nordeste, por favor).

Nessa fase, seus companheiros são homens maravilhosos.

Maridos e amantes: os que têm a idade perfeita para elas. Mais jovens e viris, para as mais seguras. Mais velhos e gentis, para as que pensam que ainda são Julietas. Cafajestes e ingratos, para as que precisam acordar pra vida (antes de chegarem aos quarenta).
Amigos: gays sãos os melhores. Cafunésinho de mão masculina com a sensibilidade de uma melhor amiga. Bonitos, gostosos e malhados para colocar o astral pra cima. Intelectuais, ótimos companheiros de drinks; e as “biba-véia”, verdadeiras mães judias.

Amar uma mulher nesta fase da vida poder ser uma boa experiência. Mansas, preguicentas, caladas na medida, solícitas e companheiras. Rebeldes e dominantes, quase sempre de um modo sutil e paciente. São mulheres mais plenas, e plenas de que é necessário ter paixão para começar o dia. Porque a paixão nessa idade é preciso e precisa. É tirana. Reina absoluta em todo corpo, como pensamentos pecaminosos. E que pensamentos! Intensos, elaborados... A paixão nessa fase da vida é vital, porque sei lá o que acontece, uma espécie de averiguação de que já se foi um terço da vida, e o que urgia, agora precisa ser constante; pelo menos periódico.

Uma mulher de 30 é alguém para se estar num dia cinzento fumando na janela. Segura de si, sem medo de se definir. Inteira. Tenra. Ardida. Sôfrega. Invencível.